
Muita gente idealiza como seria ter um namoro coreano. Afinal, os doramas mostram homens atenciosos, quase príncipes encantados, namoradas fofas e amores de novela.
Mas se tratando de relacionamentos interpessoais, principalmente relacionamentos românticos, obviamente não podemos generalizar e dizer que todo mundo age de uma forma única.
Além disso, diferenças culturais interferem diretamente na forma como nos apresentamos, interagimos e demonstramos afeto.
Em resumo, podemos dizer que o namoro coreano não é idêntico aos doramas, mas se isso é decepcionante ou não, depende do gosto de cada um.
Vamos direto ao ponto: conheça os aspectos que podem ser muito relevantes para estrangeiros que sonham com um amor coreano.
O povo coreano é mais conservador que o brasileiro?
No Brasil, o jeito de começar um relacionamento é bem mais livre: seja por aplicativos de namoro, encontros casuais ou até pela famosa “ficada”. Já na cultura coreana de relacionamentos, é comum conhecer alguém por meio de amigos em comum, os chamados matchmakers sociais. Essa “ponte” funciona quase como um filtro: coleta informações sobre estudos, trabalho e até relacionamentos passados. Ou seja, antes mesmo do primeiro encontro já existe um certo pré-julgamento.
Outro ponto de choque cultural está nas demonstrações públicas de afeto. Enquanto no Brasil é normal ver casais trocando beijos demorados em bares, festas e na rua, na Coreia esse comportamento não é amplamente aceito. Dar as mãos e abraçar é tolerável, mas beijos precisam ser rápidos e discretos. Se o casal exagerar, pode até receber uma bronca pública de pessoas mais velhas.
Além disso, existe o toque de recolher familiar, algo que surpreende muitos brasileiros. Mesmo jovens adultos, já na casa dos 20 ou 30 anos, ainda precisam chegar cedo em casa para não desrespeitar os pais. Sem contar que não é comum levar o namorado(a) para a casa da família logo no início, ao contrário do Brasil, onde ver filme no sofá dos pais já é parte natural da fase de conhecer melhor o parceiro.
Coreanos usam aplicativos de namoro?
Assim como no Brasil e em vários lugares do mundo, o Tinder também existe na Coreia do Sul. No entanto, há muitas reclamações de golpistas e a sensação frequente de que é um app para quem não quer algo mais sério.
Por outro lado, o Bumble tem bons filtros e é menos focado em encontros casuais do que o Tinder. O CDFF (direcionado especificamente para cristãos) também é uma boa opção para quem está aberto a relacionamentos à distância.
Ainda existem outros apps como Noondate, por exemplo, mas todos exigem muito cuidado e claro, devem ser acessados somente por maiores de idade.
Como a Coreia do Sul trata os namoros não heteronormativos?
O casamento homoafetivo não é reconhecido no país, apesar disso, em 2024, a Suprema Corte coreana decidiu que casais do mesmo sexo devem ter os mesmos benefícios que casais héteros como plano de saúde, por exemplo.
A princípio, a juventude é mais aberta, mas o peso da expectativa familiar é muito grande. Na Coreia, espera-se que os filhos casem e tenham filhos para dar continuidade ao “nome da família”, então muitas pessoas relatam manter casamentos de fachada para não desagradar a família.
A representatividade está crescendo, mas ainda de forma discreta. Os K-dramas começam a mostrar casais LGBTQIA+, de forma sutil ou indireta. No K-Pop, o grupo XLOV se intitula sem gênero.
Expectativas sobre o papel da mulher dentro das relações familiares
Culturalmente, a responsabilidade da cozinha recai quase toda sobre as mulheres. Principalmente em datas especiais, nada de comprar pronto na padaria, a expectativa é que tudo seja feito em casa, do zero. Não importa se é estrangeira ou não, a sogra coreana pode esperar que você também participe da maratona de panelas.
Além disso, muitos coreanos deixam claro que imaginam o possível futuro casamento em um modelo tradicional: ele trabalhando, enquanto a esposa cuida da casa e dos filhos.
De forma alguma isso é um problema para quem se sente confortável, mas para estrangeiros esse ponto pode ser delicado. Afinal, ter as próprias economias fora do seu país de origem pode ser o fator decisivo para conseguir sair de relacionamentos infelizes o mais rápido possível, por exemplo.
Por fim, algo muito comum na Coreia do Sul é a ideia de que a mulher deve ser tratada como uma princesa frágil. De certa forma é bonitinho ser protegida do sol, ter a porta do carro aberta e o cara carregar sua bolsa. Por outro lado, homens coreanos podem ter a expectativa de que as mulheres sejam fofas mesmo em momentos de conflito.
Serviço militar: anos de separação dos casais
Outra realidade que pega muita gente de surpresa é o serviço militar obrigatório. Todo homem coreano precisa servir, geralmente por dois anos (em alguns casos, até três). Durante esse período, o contato é mínimo, então interfere nas relações:
- Internet? Só meia hora por dia.
- Saídas? Apenas 3 ou 4 vezes no primeiro ano.
- Cartas ainda são muito populares, porque o acesso ao celular é super restrito.
Resultado: você precisa se preparar para enfrentar a saudade, distância e, claro, dividir a atenção dele com a mãe.
Conclusão: Desafios nas relações interculturais
O namoro na Coreia do Sul é cheio de nuances que muitas vezes passam despercebidas para quem só tem contato com a cultura por meio de doramas ou do K-pop. De fato, há gestos românticos que parecem até teatral e muito “lovebombing”. Mas, ao mesmo tempo, existem diferenças culturais que influenciam diretamente a dinâmica dos casais.
Para estrangeiros, a experiência pode ser difícil e, em alguns casos, até frustrante. Não significa que namorar um coreano seja impossível ou um decreto de fracasso, mas sim que é preciso entrar nessa sem idealizações cinematográficas.
No fim das contas, todo relacionamento depende de diálogo, respeito mútuo e alinhamento de expectativas. Se houver disposição para compreender as diferenças e encontrar pontos de equilíbrio, o romance pode sim ser saudável, duradouro e até mais enriquecedor justamente pela diversidade.